segunda-feira, 16 de abril de 2007

Taxi Driver

Apanhar um táxi, seja em Lisboa ou num outro local qualquer, representa também - pelo menos para mim - apanhar uma boleia da vivência de quem o conduz, das histórias que traz consigo, da sua maneira de ver o mundo.

Não são todas as corridas de táxi que nos reservam conversas com interesse. As conversas – quando as há – muitas vezes nem sequer têm tempo de sair das indicações de ruas e destinos, de lugares e pontos de referência. Mas decerto que já tiveram a oportunidade de ter algumas conversas surpreendentes dentro deste meio de transporte: o motorista de Lisboa que viveu parte da sua vida entre Dublin e Joanesburgo, o taxista nocturno de Roterdão, sem medo de assaltos e com uma arma guardada dentro do porta-luvas do carro, o jovem condutor num pequeno país junto ao Adriático com grande apetência para comparar o custo de vida entre diferentes países.

Seja como for, uma viagem de táxi é sempre incerta. Não quanto ao nosso destino final, mas em relação ao local onde a conversa nos poderá levar. Não tanto quanto aos lugares por onde iremos passar, mas em relação ao que as conversas nos podem fazem pensar. E foi precisamente uma situação destas que vivi há algum tempo atrás, numa daquelas viagens entre o hotel e o aeroporto que me levaria a casa.

O taxista em causa, que trabalha em terras do tio Sam, tinha sido defesa-esquerdo num clube da primeira divisão em Teerão. Ao saber que era português falou-me, um pouco para minha surpresa, do Eusébio e do mundial de 1966. Falou-me particularmente dos 5 golos que demos à Coreia do Norte depois de termos estado a perder 3 - 0. Ainda tentei falar-lhe do Figo, mas desde logo disse-me que ele era “10% of Eusébio”. Durante os 15 minutos que a viagem sensivelmente decorreu falámos de futebol. No fim, já no aeroporto, deu-me um grande aperto de mão e disse-me, num momento algo surreal e de uma forma um pouco eufórica “And remember, if you see Eusébio, tell him that everybody in Iran still remembers him and that everybody likes him”…!

É extraordinário ver como o futebol une as pessoas. Une continentes, liga culturas e abate diferenças. Quer queiramos ou não, o futebol é mesmo um denominador comum para milhões e milhões de pessoas neste planeta. É quase uma linguagem universal. E eu, como português, só tenho de agradecer e de ter orgulho em saber que o Eusébio faz parte do seu vocabulário restrito.

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