segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Medalhas e o país dos resultados expectáveis

Uma das justificações que normalmente se dão para a existência de mais ou menos medalhas nos jogos olímpicos é a da dimensão dos países. Neste particular, existem duas variáveis que normalmente são usadas para relativizar o tamanho dos países: a população e o Produto Interno Bruto (PIB).

Utilizando este site, é possível analisar como estas variáveis se relacionam com o número total de medalhas obtidas por cada um dos 87 países que conseguiram obter pelo menos um dos lugares do pódio nos 302 eventos finais de Pequim.

O primeiro aspecto revelado pelos dados é o de que o número total de medalhas está muito mais ligado ao PIB do que ao número de habitantes. (Aproveito a oportunidade para reforçar a palavra muito: numa escala de 0 a 1 (em que 1 quer dizer “totalmente ligado”), o PIB obtém 0.78, enquanto que a variável população obtém 0.48.)

Mais. Utilizando apenas o PIB como variável explicativa do número total de medalhas ganhas obtém-se, para estes jogos olímpicos, uma relação cuja linha aparece na figura anexa a este texto.

O mais curioso é que fazendo a aplicação da relação para o caso português obtemos uma “previsão” de… 2 medalhas! Portugal está, de acordo com este modelo, em linha com o “expectável” ou a “média”. Isto é, para o nível da sua dimensão económica, tem exactamente o que seria de esperar... (E já agora, para que foi e está a haver tamanha histeria à volta dos resultados olímpicos?)

Claro que o modelo é muito simplista. Por exemplo, não “explica” todos os 117 países ou territórios – alguns dos quais seguramente com PIBs relevantes - que não ganharam medalhas.

Mas de toda a forma é interessante olharmos para um ranking dos países que se situam abaixo ou acima do expectável em termos da sua dimensão económica. Não terá o organismo olímpico português algo a aprender com este último grupo de países? Não quereremos nós ser mais do que o expectável? É que, pondo de parte os casos associados a qualidades únicas e intrínsecas de certos povos, é provavelmente neste grupo de países onde o aproveitamento de recursos é feita de forma mais eficaz.

Uma última nota. Partindo do pressuposto que a relação estimada se mantêm válido para os Jogos Olímpicos de 2012, o PIB de Portugal teria de crescer, nos próximos 4 anos, 2.8% em média para poder “justificar” mais uma medalha olímpica… Numa altura de crescimento lento do PIB, e tendo em conta que os tempos que se avizinham não são famosos, não deixa de ser um número curioso. O que é que nos resta então? Fazer por bater a média ou o expectável… Ser mais eficaz. E já agora, quantificar metas e objectivos. E não ter medo de ser avaliado por eles.

Um abraço a todos. Vou de férias. Bons posts!

1 comentário:

GreenFlag disse...

Além da curiosidade dos dados e dos seus resultados, estou plenamente de acordo com a ideia de que nós queremos estar sempre acima do expectável: veja-se o caso do JO, mas acima de tudo nas expectativas que se colocam sistematicamente na modalidade futebol, como se esses dois casos, perfeitamente residuais, é que fossem contribuir para um maior desenvolvimeto do país ou para uma maior felicidade dos portugueses. Há que ser, de facto e com dizes, realista nas expectativas e na quantificação dos resultados esperados. (nota: irei de seguida ao referido site)