Na 4ª feira à noite tive a sorte de ver a retransmissão da chegada dos medalhistas olímpicos portugueses ao aeroporto da Portela (isto é, a Lisboa), oferecida pela RTP. A televisão de todos os portugueses (e também dos estrangeiros que moram cá e, por tanto, também contribuem com os seus impostos para alimentar “o bicho”) proporcionou-me alguns dos momentos mais kafkianos e surreais dos que me lembro.
Antes de entrar no assunto, quero fazer uma declaração. Tenho a certeza de que o jornalismo é uma das profissões mais difíceis nesta nossa sociedade moderna, especialmente quando é feito com dedicação, capacidade analítica, credibilidade, objectividade e isenção. Porém, o jornalismo desportivo bem feito deverá usufruir dessas mesmas qualidades, sendo que esta área apresenta um problema (grave) acrescentado: as notícias desportivas estão nos nossos dias (na minha opinião) claramente sobreavaliadas em comparação com o resto, levando muitas vezes aos jornalistas ao abismo. Por exemplo, como encher 30 minutos de informação sobre a selecção nacional na sua concentração prévia aos jogos do Euro 2008? Evidentemente, com recurso à apresentação de “não-notícias” do estilo “hoje o Cristiano esteve a falar ao telemóvel com a sua família durante o passeio matinal; o telefonema teve uma duração de 12 minutos e 40 segundos aproximadamente”. Interessante…
E agora ao assunto. A RTP retransmitiu em directo a chagadas dos medalhistas, estando formada a equipa de “reporters” pelo Paulo Catarro nos estúdios (um clássico dos desportos na RTP), Sandra Felgueiras (vestida com casaco vermelho que não ficava muito bem nas câmaras) e Paulo Martins (jornalista de cabeça rapada, outro clássico dos desportos na RTP), estes dois últimos destacados no próprio aeroporto.
O recebimento foi no mínimo discreto, e até se poderia qualificar de “pobre”. Umas 200 pessoas esperavam pela saída dos medalhistas, número muito baixo para os merecimentos destes grandes desportistas. Havia, como é natural, familiares e amigos, e também um certo número de apoiantes. E a origem dos momentos “kafkianos e surreais” foi precisamente que a expectativa criada pelos “media” foi muito elevada. Passo já a relatar o “very best of” dos momentos dessa noite.
Momento 1: Paulo Catarro aparece no ecrã. O fato/casaco é indescritível: largo, mal feito, mal passado, assimétrico, azul intenso... Quero que a minha empresa contrate a pessoa que lho vendeu, porque só pode ser um verdadeiro mágico das vendas!!!
Momento 2: Paulo Martins entra em cena. E faz este comentário sobre o número de apoiantes, familiares e amigos à espera: “temos aqui umas 1000 pessoas”. A vista panorâmica que ele estava a avaliar dava para perceber que o número era muito menor… Se calhar contava dentro das 1000 pessoas os jornalistas, pessoal do aeroporto, passageiros a entrar e sair do terminal e passageiros dentro dos aviões à espera para descolar. Sim, assim até é capaz de ser mais gente!!!
Momento 3: Sandra Felgueiras e o seu casaco acrescentam comentários sobre a “multidão”. A repórter comentou a origem das pessoas congregadas: “vieram pessoas de todo o país; este grupo é de Azeitão”. No comment… As perguntas que a intrépida repórter fez aos populares são também merecedoras de comentário: quando não se tem nada de inteligente para dizer (neste caso, para perguntar) é melhor ficar de boca fechada (lembrem-se, o problema é que há que encher tempo de antena).
Momento 4: Paulo Martins strikes again!!! No momento da saída dos medalhistas, houve certa confusão, nada de mais, em certa medida provocada pelos empurrões e cotoveladas habituais dos jornalistas e fotógrafos a tentar fazer perguntas e fotos, e em menor medida pelas pessoas que tentavam ficar perto dos atletas. Pelo visto na minha TV, nada de mais. Ainda assim, o repórter relatou que “estavam a tentar criar um cordão de segurança à volta dos atletas, dada a confusão que se está a gerar”. Qual confusão?! Qual cordão?! Aliás, quem o ia criar?! O habitual PSP barrigudo do aeroporto?!
Obrigado RTP!!! Que noite inesquecível…
1 comentário:
Infelizmente a televisão está cheia destas coisas. Um exemplo massacrante para (alguns de nós) foi aquele triste espectáculo dado pela televisão com a partida da selecção de futebol para a Suíça... Fazer o quê? Render-se à mediocridade?
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