Têm sido algo surpreendentes as reacções que algumas pessoas aos aumentos propostos para o salário mínimo e para a função pública. Gostava de me concentrar apenas nas reacções ao salário mínimo.
O aumento proposto para o próximo ano é de 24 euros mensais. Lembremo-nos de que estamos a falar de salários de 426 euros mensais. Conseguem imaginar que há pessoas que vivem com salários de 426 euros mensais? É difícil, mas há. E há gente que nem isso tem. E há pessoas que têm de ter dois ou mais trabalhos a “salário mínimo” para poder fazer a sua vida com um mínimo de dignidade.
São por isso extraordinárias as declarações do Economista Vítor Bento (do quadro do Banco de Portugal e, tanto quanto sei, presidente da SIBS), sobre esta matéria (ver notícia aqui). Diz ele que é um erro de política macroeconómica fazer subir os tais 24 euros na actual conjuntura económica. Talvez esteja certo sob o ponto de vista puramente teórico. Mas tal como até Bagão Félix teve a oportunidade de o dizer ontem, está ainda por provar que estes aumentos salariais façam de facto aumentar o desemprego.
O que o Doutor Bento sustenta não é mais do que uma versão da teoria do “efeito perverso” que tantas vezes domina o pensamento conservador: se eu fizer isto com as melhores das intenções, o efeito final será exactamente o contrário, logo, o melhor é melhor não fazer nada!
Não sei o que pensam disto. Mas sinceramente arrisco a subscrever a palavra utilizada pelo Primeiro-ministro sobre este tipo de comentários: mesquinhos. Até porque se quisermos ser mesquinhos podemos muito bem olhar para as notícias que correram nos jornais há alguns meses atrás sobre a promoção por mérito deste economista no Banco de Portugal que há oito anos está ausente desta instituição (ver notícia aqui)... Será este um personagem real ou de banda desenhada?
(*) Título inspirado no livro de banda desenhada de Edgar P. Jacobs “As 3 fórmulas do Professor Sato”. A propósito, para quem gosta das aventuras de Blake e Mortimer, não percam a sua reedição todas as quartas-feiras no jornal Público.
2 comentários:
Como a maior parte saberá, não sou um apreciador do actual 1º ministro nem do partido que o apoio e do qual é secretário-geral. Como tal, estou em desacordo na grande maioria dos assuntos. No entanto, neste caso particular não poderia estar mais acordo com este aumento. Não esquecer que este aumento está há muito acordado em sede de concertação social. Como dizia Bagão Felix, há que dar mais alguma dignidade a quem trabalha. Acrescento eu, e também a quem trabalhou e se encontra com reformas miseráveis (embora aqui a situação seja bastante mais complexa). Espero que os futuros aumentos do salário mínimo não se fixem em valores previstos da inflação e possam continuar a ser acordados a longo prazo.
Como é óbvio, ao patronato convém manter os salários o mais baixos possível e o SMN serve muitas vezes de indicador nas negociações salariais de muitas empresas.
O aumento previsto representa um acréscimo de 5,6%, o que para quem paga parece muito. Mas se analisarmos os aumentos dos últimos anos e relacionarmos com a inflação, a anunciada e a sentida, chegaremos à conclusão de que houve perda de poder de compra. Este aumento pode ser para começar a recuperar, mas não será também uma medida eleitoralista? Eu julgo que sim, sendo possivelmente a principal causa de ser(tão) alto.
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