quarta-feira, 15 de outubro de 2008

The rise and fall of the middle class

Sim, o Prof. Krugman está na berra!!! Achei muito interessante este pequeno clip no que Krugman fala da criação e destruição da classe média nos USA. Fala dos seus inícios na era do “New Deal”, da sua criação a partir dum processo político-económico (atenção, e não puramente económico), a sua “institucionalização” na economia durante 50 anos, e o início do seu declive (adivinham?) com a administração Reagan. O clip:

http://www.youtube.com/watch?v=5kwA-CwFK5A&feature=related

O processo de formação da classe média nos USA é conhecido como “the Great Compression”, pois o fenómeno levou a uma redução das desigualdades socioeconómicas, a uma redução da distância entre classes. Este processo acelerado também se pode estudar na Europa, sendo que, na minha opinião, a formação da classe média europeia e o processo de redução de desigualdades só se deu após a 2ª Guerra Mundial, e curiosamente alavancado no famoso “plano Marshall” (evidentemente, os países comunistas, Espanha e Portugal seguiram processos diferentes, fora deste enquadramento, dada a sua condição de ditaduras). E de maneira muito similar aos USA, as classes médias na Europa surgiram em poucos anos, os que as suas economias nacionais demoraram em se recuperar dos efeitos da guerra.

Param mim, as conclusões que se podem tirar dos 7 minutos de Krugman são as seguintes:

1) Os processos de redução das desigualdades socioeconómicas não são um resultado do mercado puro, do “laissez faire”, da “invisible hand”. São uma opção política (e, por tanto, ideológica) que deve ser apoiada para se desenvolver na prática, partindo de posições e premissas “igualitárias” em termos sociais;

2) O contrário também é certo: a mudança do “status quo igualitário” para uma situação de desigualdade maior é uma opção política e económica, o que demonstra a aqueles que berram que “já não há ideologias, só há mercado” que a afirmação é uma grande mentira. E não só, porque é aliás uma mentira tendenciosa, de aqueles a quem não importam e até gostam e precisam das desigualdades, pois são a fonte da sua riqueza. Assim sendo, quem tal coisa pregoa, ou está muito mal informado, ou mente deliberadamente com um fim evidente (e com um fundo ideológico que nega);

3) A tercialização da economia teve nos últimos 30 anos um efeito contrário ao esperado: era suposto uma economia mais moderna fornece-se à sociedade no seu conjunto maior segurança, melhores condições de vida e um aumento geral dos rendimentos e da renda disponível. Por desgraça, a tercialização é um dos vários factores que tem gerado mais pressão na classe média: maior competitividade (isto isoladamente não é algo negativo “per sé”), redução do rácio salário/hora e aumento da insegurança laboral, redução da taxa de filiação aos sindicatos, etc;

4) É interessante como Krugman menciona a taxa de filiação aos sindicatos como indicador do aumento das desigualdades. Atenção: falar de sindicatos não implica falar de “comunismo”, “socialismo” ou políticas de esquerda. Alguns dos sindicatos mais poderosos do mundo (por exemplo, na Alemanha) são de tipo sectorial. Aliás, usar a perspectiva da dialéctica Marxista para analisar a economia e ser comunista são duas coisas totalmente diferentes…

5) A globalização é o “bicho papão” que as grandes empresas nos têm vendido nos últimos anos para pressionar mais ainda sobre as classes média e operária. O medo à Ásia levou aos líderes empresariais (e, pior ainda, políticos) a pedir o mesmo tipo de sacrifícios na Europa e nos USA. O paradoxo é que usar o mesmo modelo de produção que os países pobres não vai tornar a Europa e os USA mais ricos, só mais pobres. Só um paradigma que proponha “fazer as coisas de maneira diferente” poderá melhorar a nossa situação;

6) Neste clima, os grande beneficiários foram os directivos de topo das grandes empresas, administradores, etc. De facto, o diferencial entre ordenados dos quadros médios (os típicos da classe média) e quadros directivos tem crescido meteoricamente nos últimos 20 anos. Será que os administradores fazem agora muitas mais coisas e muito melhor feitas do que nos anos 70 0u 80? Não me parece…

COMENTÁRIO FINAL: se não se mudar qualquer coisa deste modelo político, social e económico, vamos acabar num capitalismo que a humanidade já conheceu, o do século XIX. E não gostamos dele.

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